Páginas

quarta-feira, 13 de março de 2013

Admito: sozinho não dá


Até onde se estende a minha incapacidade de me colocar à prova? Me sinto sempre acorrentado à minha imperfeição inata, aquela da qual jamais conseguirei me livrar, na qual eu gasto esforços enormes e infrutíferos - tudo para, um dia, ter coragem e experimentar. O que? A vida, o que as pessoas normais experimentam o tempo todo. O amor, aquele que vem de todo tipo, tamanho, cor e forma; aquele que tem traços únicos e surge de uma troca de olhar, de um movimento corajoso, de uma atitude. Mas, com uma consciência quase palpável de que não há como eu ser amado por muito tempo por alguém, pelo medo de fazer tudo dar errado, bem, eu não vou a lugar algum.

Os anos se passaram e eu já não sou mais o mesmo que escreveu sobre o pontinho vermelho em sua busca sem fim. Meus passos se tornaram mais firmes, sou mais dono de mim sem querer ser dono do que eu faço. Porque foi o que descobri: quanto mais tento controlar as coisas, mais elas fogem ao meu controle. E só eu sei como sou controlador, como sinto que preciso disso para viver em paz, mesmo que seja uma paz vigiada  e à beira de inúmeros conflitos. Agora tento me atirar aos conflitos e tirar deles o que conseguir, com o alcance que minhas mãos tem nesse momento de minha vida. Mas mudam os gestos, mudam os pensamentos, renovam-se os hábitos, só que essa parte de mim permanece a mesma.

Sou o maior covarde que conheço em relação ao amor. Fui capaz de permanecer afastado disso por muito mais de um ano apenas por não procurar uma forma de tentar reencontrá-lo - permaneci o tempo todo em minha zona de conforto, desconfortavelmente engasgado com a minha solidão. Caramba, por que precisa ser tão difícil e complicado para mim? Por que não consigo simplesmente tentar? A sensação que vem das tentativas sempre me desencorajam, me esfregando na cara a real falta de controle que é a realidade. E isso me faz pensar: estarei eu então vivendo uma falsa sensação de que realmente mudei, melhorei?

Seria mais fácil se eu não acordasse ou fosse dormir pensando sobre isso. Muito melhor se eu não olhasse para as pessoas a rua e depois fugisse delas. Se eu não possuísse a parede mais alta e não me colocasse fora do alcance de qualquer um... aí talvez eu tivesse uma chance. Porém não me sinto pronto, ou confortável. Me sinto... errado. Fora de lugar. Incapaz de fazer o que todo mundo consegue fazer. Não há um "final feliz" em minha história. Não há continuidade além da minha própria pele, que irá ganhar rugas com o passar dos anos.

Porque eu não quero enfrentar esse medo. Não sinto que consigo sozinho. Sei que preciso se realmente quiser resultados, mas simplesmente não consigo. É o pior de todos. É imperioso, sempre me abate como faz uma raposa a uma lebre indefesa. E é assim que me sinto.

Então talvez eu precise sempre tentar explicar isso para alguém, mesmo que nunca consiga pronunciar qualquer palavra convincente. E recebo olhares que comunicam sempre "você não consegue porque não quer". Serei feio demais? Estranho demais? Tenho as qualificações para viver romances? Aquela voz perfeccionista que me persegue desde a infância me responde prontamente um "NÃO!" quando estou prestes a me arriscar.

Um dia quero conseguir. Ainda não consigo, ainda nem consigo querer conseguir. É um entrave que segura toda a minha vida, um romantismo que envenena meu humor e meus objetivos mais reais, mais simples e necessários.

Sigo sozinho, mergulhado no mar cinzento. Não me importa mais a cor que emano, passo aos poucos a refletir as cores que se amontoam ao meu redor. Um dia, quem sabe, acordo e me descubro apaixonado por mim mesmo e assim não precisarei de mais ninguém.

Nenhum comentário:

Postar um comentário