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Para quem entende, leu "LOUCURA" aí, ou algo do tipo. E foi exatamente isso que experimentei no sonho, como é perder a minha sanidade. Sem mais delongas, vamos a ele.
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De fato, é terrível a gente não ter noção que está sonhando e viver aquilo tudo como se fosse realidade. Tudo seria muito mais fácil para mim se eu simplesmente pudesse dizer "ah, isso é um sonho" e resolver as coisas da forma como quisesse, mas eu não consigo fazer isso. Esse começou comigo vivendo numa cidade em que nunca estive, onde eu estudava com alguns primos meus e até amigos de infância em um colégio. A sala de aula parecia uma daquelas de colégio interno, com mesas claras e um papel de parede azul meio bebê, algo assim. Eu tinha memórias daquele lugar e daquelas pessoas, só que havia alguma coisa de errado com tudo aquilo. A gente tinha feito uma prova e a professora estava distribuindo para que cada um visse seus resultados. Fui o único a tirar dez (era mesmo sonho?!) e, por isso, ela pediu que eu ficasse para conversar com ela enquanto o resto da turma ia embora.
Uma prima minha, com quem estudei durante a minha vida escolar toda, me disse "você encontra com a gente depois naquele lugar!" e foi-se com os outros. Eu sabia de que lugar estavam falando, era uma espécie de venda onde a gente costumava se encontrar naquele mundo... tinha uns pufes enormes onde a gente podia sentar. Mas, ao mesmo tempo, parte de meu cérebro me dizia que eu não conhecia aquilo de verdade. Aquelas pessoas, aquele contexto... estava tudo errado. Eu não PERTENCIA àquele contexto, tinha uma certeza plena disso, porque havia memórias muito mais reais de outra vida em mim, da minha vida real e das companhias que eu costumava ter. Onde todo mundo tinha ido parar? O que estava acontecendo?
Aproveitei que tinha ficado sozinho na sala para sair do colégio escondido, porque precisava me situar de alguma forma. Um traço marcante desse sonho foi a clareza de alguns cenários para mim. Os chamo de "cenários" porque era o que pareciam mesmo, muito bem feitos e detalhados para soarem como os lugares normais que costumamos frequentar no cotidiano. O fundo do colégio me lembrava uma mansão vitoriana muito velha e cheia de arbustos. Eu havia saído de lá e... aí veio uma interrupção brusca do sonho. Não sei se acordei e voltei a dormir, mas sei que, quando me dei conta, já estava em outro lugar.
Não sabia exatamente onde era, mas sabia do que se tratava: era uma espécie de asilo. Eu sabia porque haviam me colocado ali, era um lugar para pessoas loucas, onde elas eram deixadas e esquecidas. E aquele desespero que havia nascido na sala de aula agora estava muito pior. Por algum motivo, estavam tentando me enganar ou me fazer enlouquecer, mudando tudo na minha vida de vez e agindo como se eu estivesse estranho. Não estava louco, não podia estar. Apenas queria voltar para a minha vida e fazer com que todo mundo parasse me tentar me convencer de que estava perdendo a sanidade. Sentia isso, mas não sabia o que fazer ou para onde ir. E assim esperei as pessoas saírem (não sei quem se tratavam e nem para onde foram, mas acho que eram enfermeiros) para tentar me esgueirar para fora mais uma vez. Conforme ia andando pela casa, o medo se tornava maior, porque era um ambiente tão carregado, cheio de quadros de velhos que pareciam ficar observando meus passos. Lembro vagamente de uma mesa de jantar de madeira antiga, de um corredor estreito por onde passei quase correndo até chegar numa sala enorme e toda vermelha.
Na verdade, havia duas janelas cobertas com cortinas muito vermelhas e que lançavam a luz avermelhada sobre o cômodo todo. Havia vários sofás com estampas diferentes, arrumados como se fossem para causar uma impressão de sala de visitas. E, sobre os móveis e no tapete estava inúmeros gatos sentados ou deitados e todos pararam para olhar pra mim no exato instante em que apareci. Mas não lhes dei mais atenção do que o necessário, saí correndo pela porta e direto para uma rua que nunca tinha visto. Era larga, feita de pedra mesmo, e pra minha esquerda havia um teatro enorme e amarelo, desses que a gente vê em filmes americanos. Tentei correr em direção a ele, buscando alguém na rua, mas me faltavam forças... eu não sei o que havia de errado, mas conforme meu desespero aumentava, eu me sentia cada vez mais fraco, a ponto de me arrastar quase de quatro pelo passeio enquanto murmurava, pedindo ajuda.
As pessoas começaram a aparecer, mas quase todas desviavam de mim, com medo. Uma mulher tentou me dar dinheiro, como se eu fosse um mendigo, mas foi embora logo em seguida. Eles não pareciam capazes de me ouvir, de me dar qualquer atenção. E eu sabia que minha situação não ajudava em nada, só poderia fazê-los pensar num maluco necessitado no meio da rua mesmo, alguém que até mesmo eu evitaria. É horrível a sensação de que você está tentando fazer algum sentido, mas não consegue. Você se sente terrivelmente impotente... é de enlouquecer. De fato, parecia que estava realmente ficando louco, porque continuei me arrastando até perto de uma esquina, passando por cima de uma lama grudenta sem nem me importar e ainda tentando gritar por ajuda.
Foi quando houve uma segunda interrupção. Lembro de alguns vultos, de outras salas passando que como raios por mim, de eu tentando alcançar algum lugar que não sabia onde era, ou simplesmente repetindo para mim mesmo que eu deveria me controlar, mas incapaz de conter meus pensamentos. Eu estava mesmo ficando louco, não conseguia confiar nas minhas próprias ações, essa era a sensação que eu tinha. De que isso não iria passar nunca mais, de que não voltaria a ver as pessoas de que gosto, porque minha mente agora interpretaria tudo errado e eu estava preso dentro dela, sem ter como gritar ou fazer aquele turbilhão parar. Pareciam rios e rios de informações e emoções perdidas jorrando sem qualquer controle, assumindo as formas que mais lhe convinham e pouco se importando com as consequências disso. E só me restava me afogar nisso tudo. Era quase como estar com a mente presa dentro de um corpo totalmente estranho e alheio, incapaz de controlá-lo.
Na última parte do sonho me vi numa enfermaria também com cortinas vermelhas, só que dessa vez cobrindo até mesmo as paredes. Estava deitado numa cama com uma máquina na minha cara, talvez para me fazer respirar alguma medicação para me conter e me acalmar... e ao meu lado tinha um homem que lembrava muito meu pai mais jovem, quem eu reconhecia como um tio naquele momento. Ele estava com uma expressão cética, quase de desinteresse, enquanto uma menina muito estranha, com roupa de enfermeira e uma cara meio psicopata lia meu diagnóstico. Ela disse "ele tem uma pedra na vesícula, isso provoca dores fortes e delírios". Nesse momento, voltei a sentir desespero, porque finalmente haveria algo a culpar pela minha insanidade, talvez até uma forma de me curar dela e poder voltar para minha vida normal. Não acho que na vida real uma pedra na vesícula provocaria tudo isso, achei muito estranho ela dizer logo isso dentre tantas coisas, mas era um sonho maluco mesmo.
E então acordei. Olhei pro meu teto e respirei fundo. Nossa... como estava aliviado. Se em algum momento eu pudesse ter compreendido que ERA um sonho tudo teria sido muito diferente. Mas a sensação que tive ao acordar foi a de que havia finalmente conseguido voltar à minha vida, como se tudo tivesse acontecido mesmo. E, bem, pra mim meio que aconteceu, mesmo que só dentro de minha cabeça, porque foi muito real.
Bem, era o que eu queria mesmo, deixar o sonho registrado. Mais um, né. Do anterior eu consegui extrair alguma lição importante e uma experiências também (agora digo que "sei como é estar morto"), mas morrer num sonho não é nem de perto tão perturbador quanto perder a sanidade. Não poder mais confiar em si mesmo, no que você interpreta, no que você diz e muito menos em qualquer outra pessoa... nossa, foi uma das piores sensações que experimentei.
Não desejo isso pra ninguém. E muito menos vir a sentir isso de novo.
Mas é, com sonhos assim, fica até difícil convencer alguém de que sou uma pessoa normal.