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terça-feira, 3 de novembro de 2009

E se eu acordasse para poder sonhar de verdade?

Às vezes nos ocorre um momento em que nos sentimos despertar para uma nova realidade. Ela não fora encarada antes por nos esforçarmos para ignorá-la ou por genuína falta de atenção. De qualquer forma, despertar traz uma torrente de dúvidas para nossas cabeças e, felizmente, até algumas respostas para perguntas antigas. É um novo caminho onde 'pode-se começar de novo', para o bem ou para o mal.

Quando acordei, achei tudo muito engraçado. Tristemente engraçado. Meu mundo estava tão pequeno e escondido por um véu fino, pelo qual eu já via vislumbres das terras de fora, e eu me mantive ali, quieto. Acho que nos escondemos por diversos motivos, mas todos sabemos que nos esconder não faz bem. Não se pode conseguir uma coisa sem dar outra em troca, abrir uma porta fechada exige o esforço de ir até ela e girar a maçaneta. O mesmo vale para se alcançar qualquer coisa que se almeja. As conquistas não costumam caminhar deliberadamente em nossa direção, cutucar e anunciar sua presença no esconderijo.

Até aí eu aprendi.

Mas a vida tem umas coisas engraçadas... Uns vêm a ela com tanta vontade de fazer alguma coisa, de mudar alguma coisa, que mesmo com poucas ferramentas, conseguem construir seus caminhos de maneira esplendorosa e única. Não digo que o resultado disso seja necessariamente o sucesso, a fama, a glória, mas falo da satisfação de ter almejado um feito e tê-lo feito! Já outros, ironicamente, possuem ferramentas e, contraditoriamente, não se dão ao trabalho de fazer uso delas. Entristece-me ver pessoas capazes de perseguir sonhos sentadas enquanto a vida passa diante de seus narizes. Pior que decepcionar por não conseguir realizar algo é mostrar que pode sim fazê-lo e isso não acontece pela simples falta de vontade. É até um tanto vergonhoso, não é? Sim...

Costumava olhar para o mundo onde via as coisas que me agradavam, os jogos e desenhos que prendiam minha atenção, e compreendia tudo aquilo como algo já pronto, feito para mim. O esforço por detrás de cada uma dessas coisas me passou desapercebido por muito tempo até que eu mesmo resolvi inventar. Com um lápis na mão, risquei tantas folhas sem fim para também dar essa sensação a outras pessoas, e a satisfação que vinha disso era sem tamanhos. "Feito feito", como eu disse. Entretanto, nunca fui capaz de encarar o meu talento com seriedade: ele estava ali para que o usasse como e quando quisesse, melhorá-lo quando fosse interessante. Não havia me passado pela cabeça o pensamento "droga, eu quero mesmo viver disso no futuro, tenho que melhorar!". Nunca houve um compromisso.

É muito difícil uma pessoa aprender a se disciplinar depois de uma vida inteira de pouco esforço. É um pequeno mundo muito confortável este do esconderijo, porque mostramos nossas habilidades quando queremos e as guardamos como pequenos troféus, só que sem nunca ousar depender delas para viver e nos satisfazer. Incrível como uma linha de raciocínio tão simples pode não ocorrer à cabeça de quem se escondeu. Há tanta desculpa para tudo, tanto mais para se aproveitar, que aquela habilidade pode ficar pra depois. Um sonho pode ficar pra depois, não tem tanta importância assim. Isso quando tanta gente luta para alcançar seus objetivos, por vezes com dificuldades maiores.

Ninguém é obrigado a viver de um talento, não é disso que falo. Há tantos com talentos legais, como ilusionismo, dança, canto, e que os vêem como hobbies. Falo daqueles outros que os têm e sentem vontade de usá-los para algo maior, acho que isso ficou claro. E esclarecendo mais ainda, um não é necessariamente melhor que o outro por essas escolhas. Cada vida é única, não é comparando-as que se vê a resposta. É a satisfação pessoal que eu defendo aqui.

E foi para essa realidade que eu finalmente despertei. Mesmo um tanto rígido, entrevado pelo tempo em que fiquei parado no esconderijo, percebo que é momento de começar... alguma coisa. A vida nem sempre é tão longa e plena como preferimos acreditar, não sabemos até onde podemos levar nossos sonhos. Se há uma chance de se aproveitar, ela se chama 'agora'. Vou aprender a aproveitá-la, meus olhos estão abertos e se adaptarão à luz aos poucos para que possa dar os novos primeiros passos.

Afinal, nem pode ser tão ruim assim me ocupar para variar, não é?