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segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Uma visita ao outro lado (?)

 Tive um sonho muito estranho essa noite e que me deixou com uma forte impressão. Meus últimos sonhos tem sido bastante inquietantes, sempre com situações desconfortáveis nas quais tenho que me virar de alguma maneira, mesmo sem conseguir resolvê-las. E, como não consigo controlar meus sonhos como muitas pessoas conseguem, acabo vivendo-os enquanto durmo como se fossem mesmo uma realidade paralela. De uns nem me lembro quando acordo, mas de outros...

Fui me deitar e, de repente, me peguei pensando sobre alguns parentes meus que já se foram. Não eram pessoas próximas a mim e meu sofrimento pela partida deles acabou se dando mais por ver outras pessoas que amo sofrendo por eles. Comecei a divagar sobre como eles estariam e desejei, do fundo do meu coração, que estivessem bem. Talvez por isso esse meu sonho tenha falado de morte. Eu já tinha sonhado sobre esse tema antes e tinha sido terrível, também me deixou bastante abalado, pois nele uma pessoa muito importante pra mim havia morrido e eu precisei lembrar de que aquilo era um sonho quando acordei muito triste. Mas dessa vez a mensagem era muito diferente e, para recordá-la para mim mesmo, decidi escrevê-la aqui de uma maneira que me faça lembrar dele como o vi.

***

Havia uma bela moça. Seus cabelos castanhos faziam voltinhas, presos num penteado elegante e caindo sobre seus ombros. Trajava um vestido de um azul celeste, bonito e respeitável, com uma blusa branca cobrindo seus braços. Tinha um temperamento forte e uma personalidade irritante, gostava de jogar seus problemas sobre os outros. Eu sabia disso, porque... ela era eu. E eu era ela. Era normal para mim assumir o papel de outras pessoas em meu sonho, então até aí não havia nada de muito estranho.

Mas ela (ou eu) olhava ao redor, para o casarão branco que se estendia em frente ao gramado verde e fofo, onde cavalos pastavam tranquilamente, e não conseguia processar com precisão a pergunta: "onde estou?". Porque, em parte, aquele lugar era conhecido, mesmo não sendo. Seria uma mansão de uma família rica, sua família rica? Seria um museu? Parecia ser muitas coisas e muitos lugares ao mesmo tempo, mas ela conseguia se sentir em casa ali. De fato, quando paro para me lembrar da sensação que aquele lugar me dava era de que não se tratava de um lugar do passado, nem do presente ou do futuro. Ele estava em outro tempo, independente desses outros três.

Um dos cavaleiros, homem que a moça identificou como um de seus empregados, trocou algumas palavras com ela. Lembro-me das palavras dele, dizendo que "ela jamais mudaria, essa moça seria assim para sempre a partir de agora". Isso não fazia sentido, mas fazia ao mesmo tempo. Ela continuaria a mesma porque não haveria mais nada que ser mudado naquele lugar. Só que ela ainda não compreendia...

E foi quando o sonho mudou completamente. Eu já era eu mesmo. Estava dentro de um carro em minha cidade natal, dirigindo numa rua pouco movimentada e onde minha avó vive até hoje. Sabia que não tinha experiência para dirigir sozinho, sabia que não deveria estar fazendo aquilo, mas já era tarde. Tudo aconteceu muito depressa: o carro subiu no passeio, foi de encontro ao poste e... eu já não estava mais lá.

Acordei num lugar desconhecido e também familiar. Não "acordei" exatamente, apenas me vi lá, de pé, incapaz de sentir qualquer coisa por alguns momentos. Havia um muro que me lembrava muito da casa onde cresci e, nele, um buraco parecia se abrir pra ruas cheias de arbustos e casas que eu não conhecia. Então veio a sensação mais forte do sonho: eu havia morrido. Sentia uma culpa enorme por ter deixado aquilo acontecer comigo, imaginando como as pessoas haviam reagido ao saber do acidente ou se elas sequer souberam sobre ele. Pensei sobre minha mãe, acima de qualquer outra pessoa, e me peguei desejando poder falar com ela.

Mas eu não podia mais. Sabia disso. Não os sentia mais por perto, como parte de mim. Eu estava longe, para sempre longe, e me doía pensar na dor que estariam sentindo. Só me restava aceitar essa grande verdade absoluta sobre a minha existência, seja lá o que ela tivesse virado depois daquilo. Eu ainda era eu, apesar de tudo. E o que eu poderia fazer a partir daquele momento?


Sabia de uma maneira natural que meus desejos e sentimentos possuíam algum efeito direto sobre aquele mundo e eu precisava aprender a pensar positivo, ou criaria problemas para mim e para todos. Não sabia quem eram os outros, nem os vi ou me comuniquei com eles, mas os sentia lá e eles também me sentiam. Mais tarde teríamos a chance de falar.

E então o sonho se tornou ainda mais estranho, quando tentei atravessar o buraco no muro e acabei saindo nas ruas que não conhecia, longas avenidas circundadas por arbustos muito verdes e que levavam para alguma espécie de complexo de moradia, com prédios destruídos. Eu sabia que não deveria estar ali, as presenças lá fora não eram as mesmas que as do outro lado do muro e eu precisava fugir imediatamente, porque eles também sabiam sobre mim agora e queriam me capturar.

Isso se juntou à série de metáforas que poderiam me fazer concluir que fiz uma grande jornada astral pelo outro mundo, ou apenas interpretei várias informações sobre a morte que já ouvi falar em minha vida. Sonhos são mesmo assim, afinal, confusos e cheios de reviravoltas. Não lembro de ter sido capturado ou de ter escapado mesmo... mas, ao final do sonho, eu parecia ter voltado ao começo dele.

Eu era a moça de azul mais uma vez, ainda no mesmo casarão, olhando para o mesmo gramado cheio de cavalos. Mas aquela sensação de compreensão sem palavras, de aceitação de minha situação sem remédio... aquilo havia me transformado. Ela já não era a mesma e agora ela compreendia: ela nunca iria mudar, porque seu tempo havia acabado. Ela estava morta e não havia nada que pudesse fazer para reverter isso, poderia apenas aprender a lidar com isso para voltar se sentir bem. E assim ela respirou fundo, com os olhos fechados. E aceitou. E foi caminhando sob o sol, para lugar nenhum que ela pudesse conhecer, mesmo estando "em casa" agora.

E o cavaleiro repetiu as suas palavras amargas sobre a moça: "ela nunca vai mudar, continua sendo a mesma". Mas ela havia mudado.

***

Acordei com essa sensação de aceitação, pensando em meus amigos, em minha família. Pensando em minha mãe. Demorei para lembrar de que o acidente nunca havia ocorrido, eu não havia morrido. Me levantei e comecei o meu dia.

Pode ser que não, mas sinto que meus sonhos vem tentando me ensinar alguma coisa de maneiras duras e que me marquem de alguma forma. Me causando uma dor que trago direto para a realidade como se realmente tivesse acontecido, eles me fazem pensar sobre como tenho levado a minha vida e o que tenho deixado de fazer. E esse sonho, mesmo com as metáforas sobre morte e existência, me disse uma coisa importante: aceitar. Aceitar minha falta de controle sobre o mundo ao meu redor e aceitar que, em vários momentos, posso apenas abraçar meus sentimentos e desejar que as coisas se resolvam, mesmo sendo incapaz de evitar me sentir mal ou provocar isso sobre os outros. Porque sou apenas uma existência volátil e cheia de ramificações... Mas que quer aprender a aceitar a incapacidade de mudar tudo ao meu redor, para poder viver mais livremente.

Talvez essa postagem não venha a fazer muito sentido, afinal de contas a mensagem do sonho foi dirigida a mim mesmo, se é que ela existe. Como disse, há sonhos que prefiro não esquecer pela sensação que me provocam e agora sinto que consegui registrá-lo com mais clareza. É o que importa.

Nada mudou com isso, na verdade. Mas essa sensação de aceitação é algo que quero levar comigo e aplicar em minha vida quando achar necessário.

Um comentário:

  1. Fonfas, precisamos ficar mesmo atentos aos nossos sonhos... Eles sempre nos trazem algum recado, basta que saibamos fazer a leitura. E esse, então, fala principalmente da espiritualidade, das vidas que todos nós temos...

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